Perguntas Frequentes

Nesse espaço, apresentamos um texto que aborda questões gerais sobre a Pedagogia Waldorf e, logo depois, trazemos uma pesquisa realizada com ex alunos Waldorf em São Paulo, que ilustra a trajetória de quem estudou em uma escola com essa pedagogia. 





O QUE SÃO AS ESCOLAS WALDORF
A primeira Escola Waldorf surgiu em 1919, na Alemanha, sob a orientação de Rudolf Steiner. Ela foi criada a pedido de um industrial para atender os filhos dos operários e funcionários da fábrica de que era diretor. Foi uma experiência de sucesso.
Hoje as Escolas Waldorf formam uma rede de ensino em crescimento em todo o planeta, presentes nos cinco continentes. E, embora tenham sido criadas na Alemanha, buscam incentivar e incorporar a cultura do país em que se encontram.
No Brasil, a primeira Escola foi criada em 1956, em São Paulo. A partir de então, o movimento tem se expandido com novas escolas em Aracajú (SE), Belo Horizonte, Botucatu (SP), Brasília, Curitiba, Cuiabá, Florianópolis, Fortaleza, Friburgo, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, entre outras.
Não há administração central; cada Escola é independente. Há, contudo, associações que apoiam o movimento, promovendo cursos e congressos de atualização de professores e muitas vezes, ajuda financeira para escolas de poucos recursos materiais.
A organização administrativa de cada instituição Waldorf também segue o princípio da autogestão. Não há um único dono ou diretor, mas conselhos . Os professores são plenamente responsáveis pelos seus procedimentos pedagógicos, trabalhando sempre em equipe. Cada escola é representada juridicamente por uma Associação sem fins lucrativos , da qual participam professores, pais, e aqueles que sentem afinidade com os seus propósitos educativos e culturais. Esta filosofia, ou tipo de gestão que dela provém, não muda em nada quaisquer responsabilidades pedagógicas, financeiras ou jurídicas. A Escola Waldorf responde a todos estes níveis, como qualquer outra escola.
Os pais e a família têm papel preponderante. Geralmente se entusiasmam pela proposta e colaboram para que ela possa ser viabilizada.

PROPOSTA PEDAGÓGICA
A partir da análise de dimensões específicas do ser humano como o pensar, o sentir e o querer, Rudolf Steiner firmou as bases de uma educação que tende a responder às necessidades atuais e futuras da humanidade. Segundo ele, uma sociedade só pode configurar-se e desenvolver-se de forma sadia e adequada às solicitações da época em que está inserida, se levar em conta as dimensões essenciais do ser humano.
Sobre a base desse mesmo princípio, concebeu a Trimembração do Organismo Social. Para isso, revalorizou os impulsos da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, como diretrizes máximas das diferentes funções sociais. Definiu a Liberdade como o princípio básico que deve reger a vida cultural-espiritual; a Igualdade como alicerce fundamental da questão jurídico-legal e a Fraternidade como sustento imprescindível para a atividade econômica. Na Educação isso significa:
Desenvolver na criança as bases para um pensamento claro e preciso, isento de preconceitos e dogmas, o que leva à liberdade;
Cultivar sentimentos autênticos não massificados e que respeitem os demais, num marco de igualdade de direitos e obrigações;
Gerar uma capacidade vigorosa de sustentar responsavelmente a fraternidade na vida econômica do futuro.
Essa visão do homem e da sociedade alimenta tudo o que é feito nas Escolas Waldorf do mundo inteiro, tanto na ação pedagógica como no que se refere à sua organização institucional de auto-gestão colegiada e interação sócio-comunitária.

CONSTITUIÇÃO HUMANA
No ser humano, encontramos três veículos de expressão: o corpo, as emoções e a mente. A esses três veículos de expressão correspondem três funções: o querer, o sentir e o pensar. Todos esses aspectos precisam ser trabalhados com a mesma atenção para a plena realização do potencial humano. Esse é o objetivo da Pedagogia Waldorf, e por isso ela desenvolveu atividades para cada um daqueles aspectos.
O corpo é educado por meio de atividades práticas como jardinagem, marcenaria, construção, ginástica, trabalhos manuais, entre outras. A educação do corpo, tal como é praticada nas Escolas Waldorf, fortalece também o caráter da criança, pois desenvolve a sua força de vontade, criando nela qualidades como a disposição para enfrentar dificuldades e a perseverança.
As emoções são trabalhadas por meio da arte: música, canto, desenho, pintura, literatura, teatro, recitação, escultura e cerâmica. Por meio da expressão artística, são dadas muitas oportunidades para o refinamento da sensibilidade, e a harmonização de conflitos na área afetiva e social.
A mente é educada por meio da transmissão do conhecimento de forma balanceada e adequada à idade do aluno. Nas Escolas Waldorf busca-se cultivar o sentimento de admiração que as crianças têm em relação à natureza e ao mundo como forma de manter vivo o seu interesse em aprender. Arte e atividades práticas são também instrumentos a serviço das matérias acadêmicas.
Com a educação integrada de todos os aspectos do seu ser, a criança aprende a não dissociar seus pensamentos, sentimentos e ações, podendo tornar-se um adulto equilibrado e coerente.

OS SETÊNIOS
São de conhecimento geral algumas crises básicas na biografia humana: por volta dos 7 anos, a troca de dentes; aos 14, a puberdade; aos 21, a maioridade. Aprofundando a observação dos períodos delimitados por essas crises, Steiner percebeu a qualidade essencial de cada um deles.
Os primeiros 7 anos de vida são dedicados ao conhecimento e amadurecimento do corpo, seus limites e capacidades. A aprendizagem neste período é realizada principalmente por vias inconscientes, baseada na imitação. A criança estrutura as suas experiências por meio de brincadeiras que brotam da sua imaginação. Em função da saúde física e psíquica, o intelecto e a memória não devem ainda ser solicitados. É preciso primeiro que o corpo físico dê os sinais de sua maturidade e solidez estrutural, o que ocorre por volta dos 7 anos. A virtude básica que a criança precisa ver manifestada ao seu redor é a gratidão pela vida. O mundo é bom!, ela deveria vivenciar.
Dos 7 aos 14 anos, os sentimentos estão se consolidando. São de suprema importância, nessa fase, as atividades artísticas. São então criadas as bases para o comportamento ético: o sentimento de fraternidade para com os semelhantes e de reverência em relação aos mistérios da vida e da natureza. A virtude básica que a criança precisa ver manifestada ao seu redor, nessa fase, é a beleza. O mundo é belo!
Dos 14 aos 21anos, os pensamentos e a visão pessoal do mundo são, então, estruturados de forma abstrata. Surgem as perguntas existenciais. A virtude básica que o adolescente quer ver ao seu redor é a sinceridade da busca de auto-conhecimento dos que o rodeiam. O mundo é verdadeiro!
Como as necessidades de cada fase são equilibradas no currículo da Escola Waldorf?

EDUCAÇÃO INFANTIL

Como foi dito acima, no primeiro setênio o aprendizado se dá grandemente por vias inconscientes. As influências do meio ambiente são absorvidas e incorporadas, através de uma profunda empatia, que aos poucos exterioriza-se em imitação.
As crianças imitam as predisposições psíquicas e mentais dos que os rodeiam, suas posturas corporais, hábitos e atividades que exercem. Fazem isso em brincadeiras: o brincar espontâneo é uma atividade da mais profunda seriedade, é o seu trabalho.
A capacidade de concentração, a acuidade auditiva (sensibilidade musical, saber ouvir o adulto), o desenvolvimento psico-motor, a maturação da lateralidade (base para a escrita), a linguagem, são amplamente cultivados no maternal e no jardim de infância . Estas são habilidades básicas para que o processo de alfabetização, que se inicia em torno dos sete anos, aconteça de maneira harmônica para o desenvolvimento da criança como um todo.
O ambiente e as atividades do maternal e jardim têm como finalidade oferecer as condições necessárias para que o potencial do primeiro setênio seja plenamente realizado, com liberdade e disciplina amorosa. Por esse motivo, o dia segue um padrão ordenado, com repetição de atividades e rotina criativa.
Na Educação Infantil, tentamos reproduzir, tanto quanto possível, a acolhedora atmosfera do lar. A própria composição das turmas assemelha-se a uma família: crianças de idades diferentes – de 2 a 3 anos no maternal e de 4 a 6 anos no jardim - convivem num mesmo grupo. Assim, os menores são estimulados pelos maiores, cujas habilidades almejam adquirir; e os maiores desenvolvem um senso de responsabilidade social, ajudando a zelar pelos menores.

BRINCAR ESPONTÂNEO
Brincar é a aula da criança, momento em que ela estrutura ativamente a vivência que tem do mundo. Todo o ambiente do maternal e jardim é montado em função de permitir brincadeiras criativas e construtivas; panos coloridos para montar cabanas e inventar fantasias; brinquedos artesanais que mais sugerem do que definem, estimulando a imaginação; tesouros da natureza, tais como pedras, conchas, sementes, etc. bonecas de pano e marionetes- tudo em material natural, para a educação do tato. Depois de brincar livremente, todos juntos ordenam a sala e os brinquedos. Quando estão ao ar livre, as crianças brincam de uma forma mais extrovertida, com terra, água, areia, árvores, adquirindo domínio do próprio corpo, exercitando a coordenação motora e a auto-confiança.

BRINCAR DIRIGIDO A PARTIR DE 4 ANOS
Rodas, cantigas e brincadeiras folclóricas, poesias e dramatizações. Aprender a brincar em grupo e a respeitar o outro. Descoberta de movimentos, musicalidade e ritmo. Versos ritmados, movimentos corporais, permeados de musicalidade, trazem conteúdos e imagens que alimentam o universo interno da criança, despertando uma intensa alegria em estar no mundo.

ATIVIDADES ARTÍSTICAS
Vivência de cores, desenho livre, modelagem, culinária, trabalhos manuais, num amplo exercício da motricidade fina, que se faz importante a partir dos 4 anos.

CONTOS DE FADAS
A partir do jardim, o dia é finalizado com um conto de fadas, rico alimento para a alma e a imaginação infantil, pois contém imagens de profunda realidade espiritual, atingindo regiões inexploradas do inconsciente. No maternal ( 2 e 3 anos), as histórias são mais simples, em respeito à peculiaridade desta fase, não se utilizando ainda os símbolos dos contos de fadas.

ENSINO FUNDAMENTAL
Nossa Pedagogia pretende educar o ser humano através da arte. Todo o ensino tem o elemento artístico como base. Através deste elemento procura-se desenvolver o conhecimento, que vai atuar no pensar do aluno de forma abrangente, estimulando seu amor aos outros seres humanos e o respeito pela natureza.
O conteúdo de cada ano é adequado à idade dos alunos. O currículo proporciona à criança uma visão ampla e viva das matérias, além de possibilitar a aquisição de conhecimentos gerais e preparar o jovem para o exercício da cidadania.
Eis aqui um exemplo resumido do currículo das Escolas Waldorf:

Currículo Waldorf Simplificado
1o ano
·          Introdução pictórica ao alfabeto, escrita, leitura, poesia e teatro.
·          Contos populares: contos de fada, fábulas, lendas.
·          Números, aritmética, introdução às operações e cálculos mentais.
·          Histórias de natureza, construção e jardinagem.
·         Trabalho com parte rítmica e para o amadurecimento motor.
·         Lendas da Natureza para o ensino de ciências.
·         Trabalho de formas (a reta e a curva; variações)
2o ano
·          Escrita de imprensa, leitura, ortografia, poesia e teatro.
·          Aprofundamento das quatro operações matemáticas e cálculos mentais.
·         A noção do Tempo: as estações, o dia e a noite, as horas.
·         Fábulas e lendas da natureza e de Santos.
·         As diferentes formas de plantio : horta, pomar, jardim etc.
·         Trabalho de formas (formas com movimentos rítmicos, espelhamentos duplos)
3o ano
·         Escrita, leitura, ortografia, introdução à gramática, poesia e teatro.
·         Escrita cursiva.
·         Os primeiros problemas escritos, as contas, os cálculos mentais e as unidades de medida.
·         Valorização homem através do tema das profissões.
·         Os povos do mundo e suas casas.
·         A construção individual da casa.
·         O trabalho na terra (cereais e hortaliças)



LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
A criança que bem cedo é exposta a outro idioma adquire facilidade para, no futuro, relacionar-se com o próximo, ampliando a capacidade para a compreensão social de outras culturas. O trabalho com outras línguas aprimora a capacidade de ouvir e falar, propicia flexibilidade ao pensamento, desenvolve a habilidade de síntese e fortalece a concentração.
O Ensino de línguas estrangeiras começa no primeiro ano, trazendo, a princípio de forma não intelectual, a musicalidade da língua e suas características culturais.

DESENHO/ PINTURA / TRABALHOS MANUAIS/ ARTES APLICADAS
O Currículo Waldorf contém, do jardim de Infância até a última série, um programa de atividades artísticas e artesanais, tão intimamente adaptadas à faixa etária de cada classe quanto é o ensino de matérias tradicionais.
Nos Trabalhos Manuais as crianças fazem tricô, crochê, bordado. Nas Artes aplicadas (a partir de 11 anos de idade) as matérias são: costura, marcenaria, cestaria, etc, todas ligados às inúmeras atividades primordiais da humanidade.
O Desenho, a Pintura e a Modelagem estão sempre presentes nas aulas ministradas pelo professor de classe, inclusive como suporte para a transmissão de conteúdos. A partir da quinta série, um professor específico assume estas matérias, trabalhando a observação exterior do mundo, a expressão artística interior, a beleza aliada à técnica, ao saber fazer.
A Atividade Artística na Escola Waldorf não visa formar artistas ou artesãos, porém vivenciar processos. Educar o sentimento, o pensamento, a capacidade de agir; construir algo com as próprias mãos ; cultivar a perseverança, a coordenação motora, o senso estético. No contato com a matéria, o aluno tem uma autêntica relação com o mundo real.
Tais disciplinas têm alto valor pedagógico, quando exercitadas com regularidade. Uma das conseqüências é a compreensão do trabalho alheio e o respeito ao trabalho manual, além de um gosto seguro por aquilo que é bem feito e belo.

MÚSICA
Toda criança , desde pequenina, traz a música dentro de si.
Dos 0 aos 7 anos, esta musicalidade manifesta-se principalmente em sua corporalidade. Os ritmos, os movimentos, os gestos e os sons que vivem em seu ambiente, são os educadores musicais. Na primeira infância, especial atenção deve ser dada à educação dos sentidos, especialmente o sentido da audição.
A educação musical na Escola Waldorf começa, assim, no maternal e no jardim de infância.No respeito ao ouvido da criança, ainda em formação. Sons delicados que embalam e trazem aconchego. A voz humana, ao invés de sons eletrônicos. A doce presença do Kântele. Sons da natureza. Muitos ritmos
,brincadeiras de dedos, versos, cirandas. Liberdade de movimentos. Tudo isto é musicalização, e prepara intensamente a criança para as aulas de música , no ensino fundamental.
No Ensino fundamental, a música faz parte do currículo, além de ser um instrumento de trabalho também para o professor de classe. A música dá continuidade ao desenvolvimento do sistema motor, lança as bases para um pensar vivo e criativo, e cultiva sentimentos de beleza e comunhão.

ALFABETIZAÇÃO
O trabalho de alfabetização começa no ano em que a criança completa 7 anos, quando ela apresenta todos os requisitos básicos para este processo. É o que se chama “prontidão”, maturidade psicomotora, cognitiva, organização espacial e perceptual.
A alfabetização se dá de forma gradativa, primeiro apresentando o aspecto pictórico da letra, depois seu som, para finalmente chegar à forma abstrata. Este processo tenta resgatar o caminho que a própria humanidade fez ao desenvolver a leitura e a escrita.

ENSINO EM ÉPOCAS
O conteúdo de cada ano é dividido em temas principais que são ensinados durante três ou quatro semanas, de maneira intensiva e profunda.
Rudolf Steiner descobriu o valor pedagógico frutífero do trabalho intensivo seguido pelo esquecimento. Esta dinâmica permite aos alunos uma espécie de digestão do conhecimento adquirido. Quando se retorna a uma época, as crianças estão cheias de novidades e com vontade de aprender mais.

PROFESSOR DE CLASSE
A relação professor-aluno é o cerne da Pedagogia Waldorf. Esta relação deve ser íntima e profunda, pois a criança necessita ter por modelo uma autoridade confiável, capaz de transmitir conhecimento com amor. Esta figura é o professor de classe, que acompanha a turma desde o 1o até o 8o ano, ensinando as matérias principais.
Por que existe durante tantos anos o mesmo professor de classe? As crianças querem ser percebidas continuamente em seu desenvolvimento, durante um período bastante grande. Esse período da vida da criança deve tornar-se uma biografia na consciência do professor.

A MISSÃO DO PROFESSOR
Um caminho de constante aprendizado. Essa é a opção de vida de todo professor. A satisfação de acompanhar de perto o desenvolvimento do ser humano, e ver quantas possibilidades estão latentes dentro de nós.
Num mundo onde valores humanos são cada vez menos considerados, temos a árdua tarefa de lutar contra uma corrente que prega a alienação, a massificação de idéias, a falta de sensibilidade. O professor, como agente transformador da sociedade, começa tansformando-se a si próprio.
Para a Pedagogia Waldorf, o verdadeiro educador é aquele que se propõe uma constante busca espiritual, pela auto-educação consciente. Para estimular o desenvolvimento de seres humanos em formação, deve estar ele próprio, aberto a se transformar. É o que toda criança ou jovem espera de qualquer adulto.
No primeiro setênio, ele deve ter em mente que a educação nessa fase se dá pelo exemplo. O que o adulto é, conta mais do que as atividades propostas ou as técnicas usadas. Por isso, nas Escolas Waldorf, o mesmo professor costuma acompanhar a criança ao longo do jardim ou maternal.
No Ensino Fundamental (1ª a 8ª séries), um único professor, quando possível, acompanha a turma por todas as séries, impondo-se pelo amor como uma autoridade a ser seguida pelas crianças, que necessitam dessa referência.
No Ensino Médio (9o ao 12o ano), o professor deve ser um perito na matéria que leciona, e despertar no aluno o mesmo entusiasmo que ele sente. O adolescente busca confirmar o que é verdadeiro no ser humano, e precisa tornar sua mente aguçada. O professor, agora sim, já não deve ser aquela autoridade a quem se admira, mas um amigo com quem se questiona a vida.
A relação professor-aluno é o aspecto mais importante para uma educação integral. Informações podem até ser transmitidas por meios eletrônicos. Educação, não.
O professor Waldorf, além da formação tradicional exigida pelo MEC, passa por uma formação específica, que consiste nos Cursos de Formação em Pedagogia Waldorf, Fazem parte da formação matérias teóricas como as que tratam do currículo e do desenvolvimento da criança. Filosofia , vivências com artes, música e trabalhos manuais.
Entretanto, a formação de todo professor se completa dentro da sala de aula, no exercício diário da sua missão. As próprias crianças e jovens vão nos ensinando a lidar com eles, nos mostrando caminhos, tornando-se nossos companheiros de vida.

RELIGIÃO NAS ESCOLAS WALDORF
A Antroposofia não é uma religião. É uma visão do Universo e do Homem obtida segundo métodos científicos. Dessa cosmovisão decorre uma imagem do ser humano, que é objeto de constante estudo para os professores.
Nas Escolas Waldorf, não se prega nenhuma confissão específica, respeitando-se a liberdade espiritual de seus alunos e familiares.
O sentimento de religiosidade, que a criança naturalmente traz consigo, é cultivado na celebração das festas cristãs e também através de pequenos gestos de gratidão aos homens, à natureza e a Deus.

OS LIMITES NA EDUCAÇÃO WALDOR
O ser humano só alcança sua maturidade aos 21 anos. A criança gradativamente conquista autonomia, responsabilidade e liberdade. O limite é imprescindível para a criança em desenvolvimento.
Embora na educação infantil a criança tenha seu espaço de expressão através do brincar espontâneo, existem limites e atividades definidas, ritmo e horários, o que traz segurança para o ambiente.
Do maternal ao ensino fundamental, os limites são claramente colocados pelos professores, em linguagem adequada a cada faixa etária.

A IMPORTÂNCIA DO RITMO E DOS HORÁRIOS
Onde há vida, há ritmo. O ritmo,a repetição criativa, estão sempre presentes na Pedagogia Waldorf. Nas festas anuais, no dia a dia, no trabalho semanal, no ensino em épocas, proporcionando segurança, serenidade e alegria.
Educando nossos filhos com ritmo, com horários, também em casa, criamos condições para que sintam-se mais tranqüilos, seguros e saudáveis. A falta de ritmo, principalmente nos horários de dormir e acordar, é um hábito bastante prejudicial para a criança, que compromete, inclusive, o seu desempenho escolar.

MEIOS ELETRÔNICOS E EDUCAÇÃO: ONDE ESTÁ O PROBLEMA?
“(...) Todas as crianças são dotadas de incomensurável fantasia, mas muitas não têm sonhos próprios, porque delegaram à TV o direito de imaginar por elas. Assim, crescem saturadas de des-informações que não processam, vulneráveis em seu código de valores e confusas quanto aos princípios éticos a serem abraçados..
Frei Betto em “Todas as crianças”.
O texto que se segue tem a intenção de provocar nos pais uma reflexão sobre os malefícios da TV, filminhos de vídeo, videogames e do computador na vida de nossos filhos.
Na frente de uma TV a criança está fisicamente inativa; até os músculos oculares ficam em repouso. Quem já não notou o filho vidrado na frente do aparelho de TV, como se estivesse anestesiado? Além do físico, o pensamento também fica praticamente inativo: não há tempo para raciocínio consciente e para fazer as associações mentais.
“ O fluxo das informações gerado pelo vídeo ultrapassa de longe as possibilidades que a criança tem de captar o que lhe é apresentado, “digeri-lo” e entendê-lo sozinha. Ela capta ora uma coisa, ora outra, e freqüentemente não consegue, por si só, estabelecer a ligação entre as imagens que vê e as frases compreendidas. O cérebro é estimulado para manifestações sensoriais e fluxos de pensamento fracionários e associativos. Estes não podem ser efetivamente comprovados, pela criança, sem sua conexão com a realidade. Correspondentemente, as delicadas tramas nervosas cerebrais, ainda em desenvolvimento, são influenciadas em sua estruturação. O cérebro se molda mais no sentido de tornar-se instrumento de fluxos mentais passivos e associativos. Também na vida futura, uma pessoa que cresceu dessa maneira dependerá de que as informações lhe sejam sempre dadas exteriormente, e estará em precárias condições de chegar a idéias ou critérios próprios - mesmo porque nem sequer surgirá o desejo de fazê-lo. Por outro lado, encontra-se muito desenvolvido o pensar crítico, que avalia e condena ou absolve as situações. É que este tipo de pensar só entra em atividade diante de situações ou objetos já existentes, não sendo produzido por meio da criatividade. Um pensar criativo só pode desenvolver-se baseado em atividade própria, atenção e vívido interesse pelo mundo objetivo.” (*)
Uma pessoa assistindo TV (vídeo) entra em um estado de desatenção, de sonolência e de semi-hipnose.
Assim, o problema gerado pela TV está concentrado em grande parte no imobilismo que gera nas crianças, que deixam de fazer o que de mais importante deveriam fazer nessa etapa do desenvolvimento: movimentar o corpo, imitar os processos do meio ambiente, tornar-se habilidosas, entregar-se a atividades que façam sentido. Ver televisão não requer nenhuma habilidade especial, nem tampouco desenvolve alguma habilidade especial.
Neste sentido, não é tanto o conteúdo dos programas de TV que deve orientar a permissão ou não de assisti-la. O problema é o mal da TV em si, por tudo que foi dito acima. Ainda citando o mesmo livro: “ao consumo televisivo segue-se uma inquietude de movimentos tão desnatural quanto o foi a anterior imobilidade diante da tevê”. Não é com o conteúdo da mensagem assistida (por exemplo, se foi cruel ou não), mas com essa espécie de imobilidade forçada frente à tela, que se relaciona o fato de, logo após assistir à televisão, a criança não saber como entreter-se, tender à agressividade, agitação, ficar mal-humorada e provocativa. Os conteúdos problemáticos ou não do programa apenas aumentam ou diminuem o resultado final.
Os mesmos fenômenos provocados pela TV são observados em uma criança assistindo filminhos de vídeo, jogando video-games e lidando com o computador.
Os efeitos na educação, especialmente em uma educação Waldorf, são desastrosos. Especialmente porque interferem no processo de aprendizagem da criança e nos pontos nos quais a pedagogia mais trabalha: o respeito ao movimento natural e sadio da criança, o desabrochar da curiosidade e da descoberta do valor de cada ato humano sobre a natureza, as condições para o florescimento da criatividade, um sentido para todas as coisas da vida, que é bela e é aprendida a ser respeitada.
É essencial que pais e educadores se aprofundem no assunto, adquirindo a necessária convicção para lidar com uma questão tão delicada.
(*) Consultório Pediátrico: um conselheiro médico-pedagógico
“ Meios Eletrônicos e Educação – Uma Visão Alternativa”, Valdemar W. Setzer.

AS FESTAS DO ANO
Ao longo do ano, festas como a Páscoa, São João, Micael, Primavera e Natal, são comemoradas. Visam, principalmente, despertar na criança seus valores e seus sentimentos de compreensão, admiração e reverência à beleza da vida e da natureza.
Estas e outras festas, de acordo com o pensamento da Educação Waldorf, servem para religar ou conectar a humanidade com os ritmos da natureza e do cosmos. Essas festas têm origem nas culturas mais antigas, como manifestações artísticas. São povoadas de alegria e entusiasmo das crianças, professores e pais, quer na preparação, como na celebração.

PERGUNTAS FREQUENTES

- “Visão Espiritual da criança”, tem algo a ver com religião?
Não na forma como comumente é entendida uma escola “religiosa”. Embora tenhamos fundamentos cristãos, nenhuma doutrina religiosa em particular é defendida ou ensinada às crianças.
- Por que os alunos têm que ficar com o mesmo professor por 8 anos?
Entre 7 e 14 anos de idade, as crianças aprendem melhor através da aceitação de uma autoridade amorosa, assim como antes , aprendiam através da capacidade de imitação.
No primário, especialmente nos primeiros anos, a criança está aprendendo a expandir sua experiência além do círculo familiar e da sua própria casa.
O grupo de crianças da sala de aula torna-se um tipo de família e o papel da autoridade ( que numa analogia equivaleria ao papel dos pais,em casa), é representado pelo professor. Assim, professor e aluno acabam se conhecendo profundamente, o que permitirá ao professor, ao longo dos anos, encontrar a melhor forma de lidar com as dificuldades de cada aluno, em vários âmbitos.
- O ensino é “mais fraco”, se comparado às Escolas convencionais?
Não. A Escola Waldorf também exige muito dos alunos. A diferença está na forma com que os assuntos são trazidos às crianças, e no respeito às suas fases evolutivas.
- Ao sair da Escola Waldorf, a criança ou jovem terá dificuldades em adaptar-se a outras escolas, ou ao mundo?
A prática e relatos mostram que as crianças transferidas para outras escolas normalmente conseguem bom desempenho e boa adaptação. Freqüentemente se sobressaem quanto à capacidade de concentração, criatividade, entrosamento social, autonomia e entusiasmo pelo aprendizado.
- E o vestibular?
Jovens ex-alunos Waldorf, mostram-se aptos a passar em qualquer vestibular, tanto quanto alunos de escolas tradicionais. Podem tornar-se bons profissionais na profissão que escolherem, seja na área das
ciências exatas, humanas, biológicas, ou quaisquer outras. Normalmente mostram sensibilidade em relação às questões de ordem social, estando bem conectados à realidade. Enfrentam os desafios da vida com equilíbrio e com os “pés no chão”.
- Há alguma recomendação da Escola em relação à alimentação?
As crianças devem evitar os doces na parte da manhã, pois o organismo não está apto a digeri-los, o que prejudica a concentração. Na medida do possível, o ideal é receber uma alimentação integral isenta de agrotóxicos.
- Quando a criança está madura para a alfabetização?
A criança já se interessa por letras e números. Não estará ela “pedindo” para ser alfabetizado?
Nas escolas Waldorf, o processo de alfabetização inicia por volta dos 6 anos e meio a 7 anos. Paralelamente, cada criança é avaliada individualmente pela equipe da Educação Infantil. Trata-se de uma avaliação abrangente, em que são considerados os diversos aspectos do desenvolvimento da criança, e não somente o cognitivo ou intelectual.
Atualmente muitos apresentam precocidade no aspecto intelectual, o que não quer dizer que tenham maturidade para submeter-se ao processo de alfabetização, da maneira como feito nas Escolas Waldorf, onde é exigido bastante da criança como um todo. Problemas futuros podem ser evitados, quando se tem a devida paciência para esperar. 

__________________________________________________________



SOBRE ALGUNS MITOS
SOBRE A TRAJETÓRIA DE ALUNOS WALDORF

Este é um breve recorte de uma ampla pesquisa, na Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, realizada por Wanda Ribeiro (socióloga) e Juan Pablo de Jesus Pereira (engenheiro civil e empresário). A pesquisa pretendeu investigar e relatar a trajetória de vida de ex-alunos Waldorf.
Os resultados trouxeram argumentos frente à questionamentos sobre Pedagogia Waldorf, mas os pesquisadores ressaltam: “Números não podem expressar a essência do que encontramos nesse caminho e de todos os âmbitos que a Pedagogia Waldorf é capaz de atingir, mas podem dar um aspecto concreto aos resultados”.
Sobre a Metodologia
- O campo de investigação escolhido foi a EWRS, primeiro porque é preciso localizar uma pesquisa no tempo e no espaço; segundo, porque ela tem um universo de ex-alunos suficiente para constituir uma base confiável para uma amostra estatística; terceiro, por ser a pioneira no Brasil, tendo diversas gerações de alunos egressos, o que nos dá uma visão mais ampla dos aspectos tratados neste estudo.
- No total foram entrevistados 135 ex-alunos, mas trabalhou-se com aqueles que efetivamente concluíram o ensino médio naquela escola. Assim, temos 108 ex-alunos, formados entre 1975 e 2002.
- A escolha dos entrevistados foi feita ao acaso e teve como fonte três tipos principais de colaboração: a indicação de pessoas fora do âmbito escolar que de alguma forma conheciam ex-alunos por terem trabalhado junto com eles, por conhecerem seus pais, ou alguma outra forma; a indicação dos próprios ex-alunos entrevistados; um “sorteio” realizado pelo Grupo de Ex-Alunos da Escola (GEA) segundo solicitação dos pesquisadores; participantes de reunião anual promovida pelo GEA, na qual foi possível realizar entrevistas com ex-alunos que se apresentaram espontaneamente.
- Foi feito um questionário, com perguntas abertas, que são aquelas onde o entrevistado tem maior liberdade para responder e não apenas alternativas para escolher. Este procedimento visava acima de tudo trabalhar não só os elementos quantitativos como também os elementos qualitativos, que poderão ser utilizados em vários outros recortes posteriores, pois se procurou investigar os mais diversos aspectos daquela formação escolar, sempre do ponto de vista sociológico.
- A Pesquisa não compara a Pedagogia Waldorf com outros sistemas pedagógicos nem a EWRS com outras escolas Waldorf. Ela ressalta as características que tornam a Pedagogia Waldorf “diferente” e relaciona sete mitos que esta “diferença” suscita (tanto no Brasil como no exterior). Obviamente, existem ainda outros “mitos” que não foram investigados.
Perfil dos ex-alunos entrevistados
42% do sexo masculino e 58% feminino
58% dos entrevistados entraram na escola no jardim-de-infância
21% ingressaram entre o primeiro e o quarto ano
15% vieram para a Escola entre o quinto e o oitavo ano
6% tornaram-se alunos no Ensino Médio


OS 7 MITOS
e um resumo dos resultados obtidos:

1. Os ex-alunos têm muita dificuldade em passar no vestibular
100% dos que prestaram vestibular passaram, sendo 91% na primeira tentativa
2. Só passam em vestibular de faculdades de segunda expressão
68% entraram em faculdades de primeira expressão (segundo classificação do “Provão” do MEC)
3. Não têm capacidade para cursar uma faculdade
92% completaram com êxito o ensino superior
4. A Pedagogia Waldorf só forma artistas
Apenas 12% formaram-se em carreiras artísticas
5. A Pedagogia Waldorf não prepara para o mercado de trabalho
99% estão atuando no mercado de trabalho
6. A Pedagogia Waldorf não prepara para o mundo da competição profissional
84% não se sentiram prejudicados
7. A Pedagogia Waldorf é de doutrinação religiosa
100% não perceberam nenhum tipo de doutrinação religiosa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário